Monday, May 28, 2007
Poesia - 1
Histórias de gatos
Eu tinha um gato malhado
Que era muito malcriado.
Se lhe dizia "bom dia",
Ele nem respondia.
Se o mandava caçar,
Deitava-se a ressonar.
Se o mandava à escola,
Ele ia jogar à bola.
Se o mandava pescar,
Até fugia do mar.
Aquele gato malhado
Não me fazia um recado.
Era só vê-lo miar
E dormir ou arranhar.
Deitei-o pela janela.
Entrou-me o gato por ela
mais uma gata amarela
E os doze filhos dela.
Sentaram-se à minha mesa,
Comeram-me a sobremesa.
Dormiram no meu colchão,
Rasgaram o meu roupão,
E dentro dos meus sapatos
Fizeram chichi os gatos.
Para ficar sossegado
fui viver para o telhado.
Luísa Ducla Soares (?)
Um segredo
Sei um ninho
E o ninho tem um ovo;
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo…
Mas escusam de me tentar
Nem o tiro, nem o ensino
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar…
Miguel Torga
Guizo no Lixo
No balde do lixo
Ao pé de um sapato
Encontrei perdido
O guizo de um gato
Apanhei-o logo
Lavei com sabão
Deitei-lhe perfume
Fez um figurão
Ao meu gato preto
De nome Paquixo
Eu pus o guizinho
Que encontrei no lixo
É negro, peludo
Mas é tão vaidoso
Está sempre a mentir
É um mentiroso!
Onde é que o compraste?
Diz o aldrabão
Este guizo de ouro
Comprei no Japão
Mas não é verdade
Aquilo que diz
E um destes dias
Cresce-lhe o nariz!
Isabel Lamas
Valente Susto
Para aproveitar o Sol
Para gozar o calor
Fui passear pelos campos
Apareceu um caçador
Logo de espingarda em punho
Bem perto das minhas patas
Dizia «Belo petisco
Guisadinho com batatas!
Temperado com vinho, louro,
Sal, pimenta e colorau
Bem assadinho no forno
Não vai ficar nada mau.
Depois corta-se aos pedaços
Com uma faca afiada
Rói-se tudo até aos ossos
Não se pode estragar nada!»
Morto, temperado e assado
Cortado e não sei que mais?
Onde estão os tão falados
Direitos dos animais?
Onde está a liberdade
De que andam a falar
Se um pobre e honesto Coelho
Já não pode passear?
Isabel Lamas
Final Feliz
Numa gaiola dourada
Vivia triste e sozinho
Sem cantar, sem alegria
Ticotico, o Passarinho.
Olhava o mundo pelas grades
E mal podia voar:
-Que pequena esta gaiola!
Pensava ele a chorar.
Mas certa manhã chamou-me:
-Tropecei, cai, estou mal.
Peguei logo nele ao colo
E levei-o ao hospital.
-Parece estar magoado!
Disse eu ao senhor doutor:
-Faça o que for preciso
Mas trate-o bem, por favor.
Talas, pensos, ligaduras,
Injecções, muita pomada,
Massagens e raios-x
Não lhe faltou nada, nada.
E no regresso a casa
O Ticotico contou
A triste vida que tinha
E no meu ombro chorou.
-Quem seria que te fez
Esta grande maldade?
Alegra-te Ticotico,
Vais voltar à liberdade.
Quando tiveres melhorado
E puderes enfim voar
Deixa a gaiola vazia
Parte para não mais voltar.
Hoje logo de manhã
Dei-lhe um beijinho, sorriu.
Depois abri-lhe a gaiola
E feliz então partiu.
Isabel Lamas
O coelho orelhudo
O coelho orelhudo
para o espelho foi olhar:
Duas enormes orelhas,
viu no espelho a abanar.
-Ai que coelho tão feio
vive do lado de lá!
- Ó coelho, feio e velho,
Não olhes mais para cá.
Luísa Ducla Soares
O ratinho marinheiro
Um rato espertinho,
pequeno e bravio,
vivia sozinho
num buraco frio.
Se não fosse rato,
era marinheiro,
havia de ver
o mar todo inteiro.
Até que encontrou
perdida uma noz,
partindo-a fazia
um barco veloz.
Por remos, palitos,
por vela, uma folha,
e para sentar,
um banco de rolha.
Saltavam os peixes
dizendo-lhe:
- Olá, então o senhor rato
navega por cá?
- Navego, navego,
que sou marinheiro,
hei-de conhecer
o mar todo inteiro!
Luísa Ducla Soares
Frutos
Pêssegos, peras, laranjas,
morangos, cerejas, figos,
maçãs, melão, melancia,
ó música de meus sentidos,
pura delícia da língua;
deixai-me agora falar
do fruto que me fascina,
pelo sabor, pela cor,
pelo aroma das sílabas:
tangerina, tangerina.
Eugénio de Andrade
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